Mulheres do Cerrado: autonomia, conservação e futuro
- VBIO

- 19 de set.
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O projeto "Mulheres Conservando o Cerrado", uma iniciativa de 12 meses que transformou a vida de mulheres agroextrativistas e impulsionou a conservação ambiental no bioma Cerrado, foi concluído recentemente. Em parceria com a Avon e o Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado (CEDAC), este projeto alcançou ótimos resultados, promovendo autonomia financeira e fortalecendo o protagonismo feminino em comunidades que convivem com a riqueza natural do Cerrado há gerações.
Superação de desafios
As comunidades agroextrativistas do Cerrado possuem muito conhecimento sobre as espécies nativas e práticas de manejo sustentável. As mulheres dessas comunidades são as principais envolvidas no extrativismo e manejo do solo em suas propriedades, no entanto, os homens assumiram a liderança na determinação de preços e condições. Além disso, grande parte dos municípios envolvidos, nos estados de Goiás e Minas Gerais, encontram-se em situação de vulnerabilidade social, demandando investimentos para corrigir desigualdades.
Capacitação, organização e valorização
O projeto "Mulheres Conservando o Cerrado" nasceu para resgatar e valorizar esses saberes tradicionais, fortalecendo o protagonismo feminino e promovendo a autonomia financeira.
Foram realizadas reuniões de mobilização e organização em 36 comunidades, formando 37 núcleos comunitários liderados por mulheres.
Também, foram oferecidas 86 oficinas que capacitaram 290 mulheres em manejo sustentável, uso, conservação e pré-beneficiamento de espécies nativas, além de certificação orgânica participativa. Houve também dois intercâmbios que contaram com a participação de 56 agroextrativistas, fomentando a troca de experiências e aprimoramento de habilidades.
Em parceria com a Coopcerrado, a organização socioprodutiva recebeu apoio, desde a coleta dos frutos até o armazenamento, transporte, industrialização e comercialização. Esta iniciativa garantiu que as mulheres tivessem participação em todas as etapas, assegurando o escoamento da produção e a prática de preços justos.
Por meio de visitas técnicas para acompanhar o enriquecimento das áreas produtivas e com a distribuição de mudas de baru para 35 agricultoras, o que contribuiu para a recuperação de áreas degradadas e um estoque futuro de matéria-prima. Através da implementação de um monitoramento participativo do baru, agora é possível identificar plantas utilizadas na produção orgânica e avaliar a capacidade produtiva da espécie.
Impacto
Foram gerados mais de R$430 mil em renda extra para as famílias, com uma média de mais de R$1.000,00 por família por ano. Houve um aumento de 34% na renda e impressionantes 1152% na produtividade. Esse aumento de renda foi fundamental para garantir a manutenção do sustento das famílias, mesmo diante de impactos climáticos que reduziram a produtividade das safras.
O projeto foi uma oportunidade de reconhecimento e formalização do trabalho feminino. Mulheres que antes não tinham conta bancária agora veem seu trabalho garantir o sustento da família. Houve um aumento significativo na visibilidade, governança e liderança feminina nas comunidades.
Com o plantio de mais de 10 mil mudas de baru e a promoção de práticas de manejo sustentável, o projeto contribuiu diretamente para a redução da pressão sobre os ecossistemas do Cerrado e para a manutenção de conhecimentos tradicionais.
Este projeto está alinhado com as metas globais da Agenda 2030, contribuindo para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 05: "Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas", e com a meta 23 do Plano da Biodiversidade de Kunming-Montreal.
"Antes do projeto, não havia conhecimento sobre as práticas, manejo extrativista e orgânico, e nem comercialização. Agora tem mais visibilidade, governança e maior liderança feminina. Foi importantíssimo para a minha formação pessoal e uma oportunidade de mudar de vida. O projeto representou uma oportunidade de reconhecimento para o trabalho feminino, e pra gente continuar fazendo esse trabalho, é um pontapé". - Beneficiária Maria Adenilde Barbosa de Andrade
Olhando para o futuro: aprendizados e novas oportunidades
Enfrentamos desafios como as mudanças climáticas e a dificuldade em garantir engajamento total em todas as atividades, o que nos levou a descentralizar os treinamentos. No entanto, esses aprendizados reforçam a importância de uma diversificação contínua da produção e da oferta de treinamentos cada vez mais específicos e alinhados às demandas das comunidades, como controle de pragas, gestão financeira e aproveitamento de resíduos.
Este foi um projeto transformador, que não só gerou valor econômico para as famílias, mas também contribuiu para a construção de um futuro mais justo e sustentável para o Cerrado. A VBIO deseja continuar a viabilizar projetos que valorizam a biodiversidade brasileira e empoderam suas comunidades.
Para saber mais sobre o projeto, visite nossa página:



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