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  • Foto do escritorIsis Homrich

Importância da variabilidade genética para a conservação das espécies

Foto: Luciano Candisani/Instagram


Na natureza, as populações são definidas como grupos de seres vivos de uma espécie que ocupam determinada área em um espaço de tempo, que apresentam alta probabilidade de cruzamento entre si. Essas populações interagem com o meio em que vivem, atuam na manutenção e modificação do espaço e interferem positivamente na conservação do ambiente, através das diferentes funções ambientais que exercem. O estudo que busca entender essas interações entre seres vivos e espaços habitados, além de todas as suas causas e implicações, denomina-se ecologia – especialmente a ecologia de populações.


Em ecologia de populações, é importante entender não só o que são essas interações entre indivíduos de uma mesma espécie, mas também a totalidade dos fatores físicos e biológicos que afetam essas mudanças e por ela são afetados. Em outras palavras, para estudar as populações é preciso inicialmente entender quais são os fatores que atuam no aumento de uma população de indivíduos, o que causam sua diminuição, de que forma ocorrem essas flutuações e quais são os seus efeitos no meio em que vivem. 


A diversidade genética é entendida como um fator importante na existência de uma população, uma vez que um grupo de indivíduos com maior variabilidade genética terá maior capacidade de resistir a mudanças do ambiente. Essa diversidade genética dentro de uma população é necessária para evitar o cruzamento entre indivíduos aparentados, pois quando isso ocorre, aumentam as chances de que os novos indivíduos que virão a nascer desses cruzamentos carreguem algum aspecto negativo daquela linhagem genética, como alguns genes recessivos que tendem a apresentar o fenótipo nos cruzamentos endogâmicos – a exemplo, o albinismo.   


Esses cruzamentos entre indivíduos de proximidade genética e a consequente diminuição da diversidade genética dos filhotes acaba interferindo negativamente na conservação de uma espécie que já é ameaçada, como a das antas. Para exemplificar de uma maneira clara, suponhamos que eventualmente surja alguma doença que assole a população de antas de uma região isolada, com baixa variabilidade genética entre os indivíduos. Se a doença tiver propensão a atingir mais gravemente os indivíduos com uma determinada linhagem genética, a população sofrerá uma queda brusca podendo até sofrer extinção naquele local.  


As antas são animais com papel importante para a conservação do ecossistema em que vivem, uma vez que atuam na dispersão de sementes de diversas espécies vegetais. No entanto, a espécie é considerada ameaçada de extinção por diversos fatores que afetam negativamente a sua existência, como a caça, atropelamento e principalmente a antropização de seus habitats, com desmatamento, poluição e contato com animais domésticos, o que pode aumentar o risco de doenças. A baixa variabilidade genética nessa espécie aumenta mais ainda esse risco, apontando que a população de antas do local seja sensível a mudanças bruscas do ambiente em que vivem.


Estudos como o do Projeto Ecologia Molecular das antas da Serra do Mar, que teve como objetivo avaliar qual era a variabilidade genética dos indivíduos de antas na Serra do Mar, buscam investigar justamente questões da diversidade genética das populações locais. Esse projeto nasceu de uma parceria formada pelo Legado das Águas, LabBMC e Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar e viabilizado pela VBIO.


Através de amostras genéticas coletadas foi possível quantificar as distâncias e proximidades entre alguns indivíduos de antas que ocorrem ali na região. Como esperado, as antas apresentaram um alto grau de parentesco, aspecto que coincide com a grande incidência de antas albinas na região. O albinismo é um gene recessivo, que tende a apresentar-se fenotipicamente quando ocorre o cruzamento entre dois indivíduos aparentados (que podem carregar o gene do albinismo recessivamente).


Projetos similares são cruciais para a conservação das espécies brasileiras ameaçadas de extinção, uma vez que trazem evidências científicas que darão base na elaboração de políticas que atuem na conservação da espécie. Através de estudos, é possível criar medidas e ações que impactem diretamente na proteção das espécies e de todo o ecossistema em que vivem. 

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