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O papel da América Latina na liderança climática global rumo à COP30

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    VBIO
  • há 3 dias
  • 7 min de leitura
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A Conferência do Clima de 2025 (COP30) será realizada em Belém (Amazônia, Brasil), colocando a região no centro do debate mundial sobre clima e biodiversidade. Esse evento ocorre num contexto global de multipolaridade, em que as potências emergentes, especialmente países da América Latina, assumem papel decisivo na construção de uma agenda climática mais equitativa. 


Ao sediar a COP30, o Brasil busca recuperar protagonismo nas negociações ambientais internacionais, dando visibilidade aos desafios amazônicos e às vozes indígenas e tradicionais. A escolha de Belém reforça a demanda por descentralizar o debate ambiental e reconhecer a Amazônia como patrimônio mundial, colocando-a sob “holofote” global devido às suas “soluções únicas às mudanças climáticas”, como o enorme estoque de carbono florestal.


 Nesse cenário, a América Latina emerge como ator-chave na governança ambiental global, capaz de articular cooperação Sul-Sul e contrapor pressões desiguais do Norte Global.


Potencial da região: biodiversidade, soluções baseadas na natureza e bioeconomia


A América Latina concentra uma das maiores riquezas naturais do planeta. Embora corresponda a apenas 13% da área terrestre mundial, foi responsável por 25% das emissões globais decorrentes de mudanças de uso do solo na última década. Em contrapartida, a região abriga 46,5% de seu território sob cobertura florestal (em 2020) – com 31% dessas florestas oficialmente protegidas – evidenciando seu potencial para mitigar o clima. 


A Amazônia, em particular, desempenha papel vital na absorção de carbono e no fornecimento de biodiversidade: não só sequestra enorme quantidade de CO₂, mas é berço de conhecimentos tradicionais e produtos da bioeconomia (como castanha, açaí, cacau e óleos vegetais). 


Instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) reforçam que o “uso sustentável da biodiversidade é a única maneira de produzir um futuro mais próspero e resiliente”, reconhecendo que a Amazônia “desempenha um papel fundamental no equilíbrio mundial” e que criar alternativas econômicas sustentáveis para as comunidades locais é essencial para sua conservação.


Nesse contexto, soluções baseadas na natureza e a bioeconomia circular despontam como vetores de desenvolvimento sustentável. Pesquisadores e lideranças apontam que a América Latina pode dar o exemplo de como integrar clima e biodiversidade à economia. Modelos de “economia biocircular” que valorizam florestas em pé e a diversidade biológica estão em pauta: em tese, são capazes de gerar renda às comunidades locais ao mesmo tempo em que preservam ecossistemas.


A região também dispõe de um ambiente relativamente favorável para testar e ampliar inovações técnicas e políticas nessas áreas, comparável a poucos lugares do mundo. Iniciativas de bioeconomia – como manejo sustentável de florestas nativas, sistemas agroflorestais e cadeia de produtos florestais não madeireiros – vêm recebendo apoio internacional e nacional (por exemplo, via programas do BID e do Green Climate Fund) para conciliar conservação e criação de negócios verdes na Amazônia.


O protagonismo da biodiversidade e da bioeconomia ganha reforço com a atenção global sobre o Brasil. A COP30, ao completar 10 anos do Acordo de Paris, atrai líderes mundiais à floresta tropical e eleva a visibilidade de iniciativas locais. Isso impulsiona debates sobre restauração florestal, manejo sustentável, inovação em produtos bioestruturados e inclusão de saberes tradicionais na economia, abrindo espaço para que projetos de conservação sejam encarados como investimentos estratégicos de longo prazo. 


Dessa forma, América Latina e Amazônia despontam não só como palco de riscos climáticos, mas como fontes de soluções baseadas na natureza – do sequestro de carbono às cadeias produtivas regenerativas – com potencial de atrair financiamento e parcerias globais.


Engajamento do setor privado na transição de baixo carbono


Nas últimas décadas, o setor privado latino-americano evoluiu substancialmente em sustentabilidade. Grandes empresas incorporaram metas socioambientais em suas estratégias corporativas, estimuladas pelo avanço de exigências ESG e pela demanda dos investidores. 


A participação de executivos e conselhos em iniciativas climáticas é crescente; por exemplo, delegações empresariais latino-americanas em COPs de biodiversidade e clima têm sido significativas, refletindo um comprometimento empresarial com a agenda verde. 


Em paralelo, o setor privado assume papel ativo na formulação de políticas públicas: no Brasil, grupos empresariais colaboram na elaboração da nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) e apresentam recomendações legislativas em fóruns como os BRICS.


É consenso entre líderes da COP30 que empresas e indústria são fundamentais para implementar qualquer acordo climático. O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, destaca que esta deve ser “a COP da implementação” – e quem implementa são as empresas. Iniciativas como a Sustainable Business COP (SB COP) visam justamente assegurar que o setor produtivo esteja presente nas negociações, apresentando propostas de políticas para recuperação de terras degradadas, transição energética e financiamento climático. Na prática, as empresas latino-americanas respondem a esse chamado ajustando investimentos e operações. Consórcios empresariais buscam recursos por meio de dívidas verdes, títulos de transição e parcerias público-privadas. 


Inovações financeiras – como transition bonds para descarbonizar setores poluentes, já emitidos no Brasil por companhias de construção e agronegócio, e resilience bonds para adaptação climática (apoiados pelo Banco Europeu) – ampliam o acesso a capitais sustentáveis. Em 2023, o governo brasileiro também avançou com a criação de um mercado regulado de carbono (SBCE), permitindo que empresas compensem emissões negociando créditos em bolsa.


Empresas que investem em soluções baseadas na natureza colhem benefícios tangíveis. Já há consenso de que projetos florestais sustentáveis geram vantagens competitivas: reputação positiva, acesso facilitado a linhas de crédito verdes, mitigação de riscos regulatórios e até desenvolvimento de novos produtos sustentáveis. 


Nesse processo, a sustentabilidade deixa de ser uma mera obrigação ou filantropia e passa a ser vista como vetor de inovação e resiliência econômica. Pressões de investidores e consumidores, combinadas às oportunidades financeiras, têm levado corporações a realinhar fundos tradicionais para projetos socioambientais, integrando-os ao core business das empresas. 


É esse alinhamento estratégico que prepara o setor privado latino-americano para desempenhar liderança em clima e natureza, transformando desafios em fontes de vantagem competitiva.


Desafios e oportunidades para as empresas rumo à COP30


O caminho até a COP30 apresenta tanto desafios quanto oportunidades para as companhias.


Desafios incluem incertezas regulatórias e tensões políticas internas. Por exemplo, iniciativas controversas como a exploração de petróleo em áreas sensíveis da Amazônia geram críticas que podem afetar a credibilidade climática do Brasil. Da mesma forma, divergências federativas em níveis estaduais e municipais podem dificultar políticas climáticas coerentes e demandar maior coordenação entre empresas e entes governamentais. 


No cenário internacional, empresas latino-americanas também precisam lidar com novas regras do comércio verde (como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na UE), que impõem exigências ambientais às exportações e podem penalizar setores ainda em transição. Em meio a esses desafios, é fundamental que o setor privado entenda e prepare seus negócios para atender exigências climáticas e de biodiversidade crescentes, desde relatórios de emissões até normas de proteção florestal.


Por outro lado, a preparação para a COP30 abre oportunidades estratégicas únicas. A visibilidade global sobre a Amazônia estimula investimentos locais: governos e empresas vêm fortalecendo a infraestrutura sustentável na região e incentivando modelos de negócio de baixo impacto ambiental. Para as companhias, isso significa que posicionar-se positivamente na Amazônia – através de projetos de conservação, bioeconomia ou inclusão de comunidades tradicionais – pode gerar impactos diretos em métricas ESG. Em especial, destacam-se:


  • Benefícios reputacionais e financeiros: investimentos em projetos amazônicos melhoram a imagem corporativa junto a clientes, investidores e reguladores, além de abrir acesso a créditos verdes e fundos climáticos.

  • Nova fonte de inovação: a Amazônia se torna um laboratório para desenvolvimento de novos produtos sustentáveis e soluções baseadas na natureza (SBN) – desde ingredientes naturais exclusivos até bioenergia e ecotecnologias – ampliando portfólios e diferencial competitivo.

  • Alinhamento estratégico: Engajar-se em cadeias produtivas sustentáveis (como manejo florestal, agroecologia ou óleos vegetais) permite às empresas responder a riscos de disrupções climáticas e regulatórias, incorporando a bioeconomia ao modelo de negócios.

  • Financiamento climático: A COP30 deve catalisar novos instrumentos de mercado: desde o estabelecimento do SBCE no Brasil (permitindo negociar créditos de carbono em bolsa) até estruturas de blended finance que combinam recursos públicos e privados. Empresários que se posicionam cedo podem atrair esse capital climático e reduzir o custo de empréstimos verdes.


Em síntese, as empresas que reconhecem a COP30 como oportunidade podem transformar obrigações climáticas em impulso comercial. Entretanto, é preciso ação proativa: mapear riscos e oportunidades específicas do setor, participar de coalizões e fóruns multissetoriais, e antecipar temas-chave (financiamento climático, adaptação, justiça social) no planejamento estratégico. 

Há um senso comum de que a COP30 não será apenas de compromissos, mas de demandas concretas por resultados – e que o setor privado deve liderar a implementação dessas soluções.


Caminho adiante e chamada à ação


Frente a esse cenário, acreditamos que empresas, investidores e formuladores de políticas da América Latina têm diante de si um papel histórico: consolidar nossa região como liderança climática global, transformando biodiversidade e recursos naturais em desenvolvimento inclusivo e resiliente. Para isso, é essencial alinhar discurso e prática, adotando estratégias corporativas de baixo carbono que valorizem a floresta em pé e as comunidades locais.


Na GSS, há mais de 15 anos trabalhamos justamente com essa missão: apoiar organizações a se prepararem de forma estratégica para os desafios e oportunidades da agenda climática e de biodiversidade. Sabemos que a COP30 será um marco para o Brasil e para o mundo, e estamos comprometidos em oferecer soluções que ajudem empresas a liderar com coerência, visão e impacto.


Por meio do Guia Empresarial para a COP30, oferecemos uma trilha clara para análise de riscos e oportunidades setoriais, definição de pautas de visibilidade e desenho de planos de ação customizados para a conferência. Além disso, com a VBIO – Vitrine da Biodiversidade Brasileira, conectamos empresas a projetos concretos de sociobiodiversidade na Amazônia, que integram comunidades locais e cadeias de valor sustentáveis. São iniciativas que vão desde o manejo florestal responsável até o fortalecimento de cadeias de produtos nativos, sempre com impacto socioambiental mensurável e reforço de narrativas sólidas de ESG.


À medida que nos aproximamos da COP30, nosso convite é claro: antecipar-se e agir com estratégia. Explorar as soluções do Guia Empresarial e engajar-se em projetos de sociobiodiversidade na Amazônia são passos práticos para posicionar sua organização na vanguarda da agenda climática.


👉 Saiba mais em www.gss.eco/cop30.


Envolver-se agora significa não apenas responder a exigências futuras, mas moldar ativamente o legado ambiental e socioeconômico da COP30 — e o futuro sustentável da América Latina.

 
 
 

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